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domingo, 18 de dezembro de 2016

O "Flecha de Prata"

Actualmente, é possivel viajar do Porto a Lisboa em 2h43min, no conforto de um comboio pendular que circula a 220Km\h, com carruagens climatizadas, com radio e televisão a bordo e todas as comodidades que o CPA 4000 oferece. Mas nem sempre foi assim. Olhemos então para os primórdios do serviço rápido em Portugal, o antecessor do Pendular, do Alfa, ou até mesmo do Foguete - O Flecha de Prata.


Mapa da Exposição do Mundo Português
Estava-se em 1940, a Dinamarca e a Noruega tinham sido ocupadas pela Alemanha, a França claudicava após a invasão através da Holanda e da Bélgica e, em Portugal,a Exposição do Mundo Português, que se iniciara a 2 de Junho, prosseguia serenamente, com as comemorações dos Centenários a engalanarem cidades, vilas e aldeias de "aquém e além-mar". 
Este evento, realizado em Lisboa durante o regime do Estado Novo, surgido duma iniciativa de António de Oliveira Salazar que visava as comemorações em simultâneo das datas de fundação do Estado Português em 1140 (800 anos) e da Restauração da Independência em 1640 (200 anos), constitui-se na maior exposição do seu género realizada no país até à data. Para a época foi uma grandiosa obra só comparável, com as devidas proporções, com a "Exposição Universal de Lisboa" de 1998.

Foi então criado pela CP um serviço que operou até 23 de Dezembro, data do término da exposição, ligando a cidade do Porto à cidade de Lisboa, para o transporte de visitantes a este evento.

Expresso de Prata 1940
Na assembleia geral anual da CP tinham sido anunciadas e todos esperavam as "carruagens metálicas" - modernas, cómodas, prateadas, que guarneceriam o rápido "Lisboa-Porto".

Traccionado pelas Pacific (4-6-2) 501-8 da CP fabricadas em 1925 pela casa alemã Henschel & Sohn, recebeu o nome de "Expresso de Prata" devido a essas mesmas carruagens BUDD que integrava, construídas em 1940/1941 sob licença da "The Budd Company" de Filadélfia E.U.A., nas oficinas da Companhia dos Caminhos de Ferro Portugueses no Barreiro, em aço inox canelado e recém adquiridas pela CP.

Estas carruagens vieram em varias configurações, entre elas : 1ª Classe compartimentada, 2ª Classe, 2ª Classe + furgão 1, 2ª Classe + furgão 2, Restaurante.






O JN de 5 de Agosto desse ano noticiava, na pag.2, a sua chegada ao Porto e anunciava a viagem inaugural que, com as "austeridades" do regime (houve quem adiasse férias e outras vilegiaturas para não perder a oportunidade), levaria e traria convidados a Lisboa, à referida Exposição.



Dias mais tarde, a 9 de Agosto, noticiava-se a viagem inaugural, atingindo a assombrosa duração de viagem de 4 horas, deslocando populações até junto da "linha do Norte" e deixando antever quão difícil seria reduzir esse tempo... que praticamente se manteve por aí até chegarem os famosos "foguetes" da FIAT para tentarem reduzir "um sensível bocadinho". Que o problema era mais da linha que dos comboios, dizia-se então. E era de ambos.


Inauguração do Flecha de Prata em 1941
Com o fim da Exposição do Mundo Português, é inaugurado oficialmente o serviço rápido e regular Lisboa - Porto em 1941. As locomotivas das séries 351-65 e 501-8 ficaram encarregues da tração destes comboios nos primeiros 7 anos deste serviço "rápido", atingindo os 100Km\h.


CP 501 Barreiro 1968
Não Obstante, a 7 de Abril de 1939, a locomotiva 501 atingiu 132 km/h num exercício de velocidades, rebocando um comboio de 107 t; alcançou esta velocidade junto a Ovar, no regresso de Vila Nova de Gaia para Lisboa.

Com as vicissitudes de combustíveis determinada pela Guerra, as 4 horas da viagem inaugural começaram a ser excedidas. A travessia da ponte D.Maria, no Porto, e o vai-vem a Campanhã complicava as coisas e, perdido o rápido em S.Bento, era possível ir de taxi às Devezas (escrevia-se com "z") , Gaia, e agarrá-lo aí. Houve entusiastas do automobilismo que iam colocar os familiares no "rápido" para se lançarem na tenebrosa Estrada Nacional nº 1 daquele tempo, "arrancando paralelepípedos nas curvas", como então se dizia, para os irem receber em Lisboa - e constava ter havido mortes nesse tão estranho desafio.

Em 1948 ambas as séries são substituidas, neste serviço e na maior parte dos comboios de longas distâncias na Linha do Norte, pelas recém chegadas locomotivas diesel dá série DE101-106, adquiridas no ambito do Plano Marshall, mais tarde renumeradas CP 1500, já com velocidade maxima de 120Km\h, reduzindo em alguns minutos a viagem para 3h56min. O Rendimento destas maquinas era superior ao das locomotivas a vapor, não pela sua velocidade ser maior, mas pela sua maior potência de aceleração e frenagem, permitindo um maior tempo de viagem "rápida".



As carruagens prateadas do "flecha de prata", uma vez substituídas e degradadas em função, deixaram de andar por aí. Hoje, na era dos "pendulares" e em discutida abertura para os TGV's, as próprias e similares sucessoras vão desaparecendo. Fica a memória... 



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