A Linha de São Gens, de cerca de 5700 metros de extensão, começava nas pedreiras com o mesmo nome, a este da estação da Sra da Hora, onde cruzava, em ângulo recto (imagem à direita), a Linha do Porto à Póvoa e Famalicão , e seguia até à zona portuária de Leixões.
A ligação entre as linhas era possibilitada por uma concordância, na direcção Norte, na Senhora da Hora. O Ramal de Leixões, que sucedeu à linha primitiva, manteve apenas o troço de Matosinhos à Senhora da Hora, e com uma nova concordância a sul desta estação (imagem abaixo).
Este ramal, pelo menos até à inauguração da Linha de Leixões (em 1938), foi muito importante no transporte de mercadorias, sobretudo para a zona do Minho, através da Linha da Póvoa de Varzim, Ramal de Famalicão e Linha de Guimarães. Ficou conhecido, sobretudo, pelo transporte de peixe fresco (em carruagem própria) para a cidade do Porto e para o Minho.
O serviço de passageiros era explorado, recorrendo também a troços da Linha da Póvoa de Varzim, no percurso Matosinhos / Senhora da Hora / Porto-Trindade. Em 1948, por exemplo, o percurso total era feito em 25 minutos (o trajecto no ramal demorava apenas 11 minutos) e circulavam cerca de 15 comboios por dia, em cada sentido.
Desta via férrea existem hoje escassos vestígios - o traçado é reconhecível apenas em arruamentos coevos paralelos ou construídos no leito da via, tais como a Rua da Barranha e o seu seguimento pela Av. Domingues dos Santos.
No entanto, na zona de Matosinhos Sul, parte do canal da antiga linha ferroviária ainda se encontra desocupado, entre a Rua Carlos de Carvalho, atravessando as ruas de Roberto Ivens, Brito Capelo, Brito e Cunha, D. João I e Dr. Afonso Cordeiro. O canal torna a ser visível na zona entre a Travessa Dom Nuno e o cruzamento da Vilarinha, terminando o canal reconhecível na rua fechada entre a Circunvalação e a Rua Vitório Falcão.
Parte do leito da linha foi, mais tarde, aproveitado pelo Metro do Porto para a construção da Linha Azul ; parte apenas, pois apesar de partilharem os términos (e apenas nominalmente em Matosinhos), estas duas ferrovias apresentam traçados bastante diferentes.
Até ao seu final, este caminho de ferro constituiu, como parte da rede suburbana do Porto, um dos principais baluartes da tracção a vapor em Portugal, embora partilhada com automotoras a gasóleo , como as da Série 9300.
Com as obras do Porto de Leixões, houve a necessidade de erguer grandes molhes de atracagem. Tal obrigou a que tivessem de ser colocadas grandes quantidades de pedra, que, depois do esgotamento das pedreiras de Aguiar, passaram a ser retiradas das pedreiras de São Gens, adjacentes à Sra da Gora. Desta forma, os empreiteiros Dauderni & Duparchy, que tinham sido contratados para as obras dos molhes, construíram, em 1884, para a Companhia das Docas do Porto, uma linha ferroviária desde as pedreiras até à zona do porto, com bitola de 900 milímetros.Esta linha foi, a par da linha Póvoa, a primeira em Portugal com a bitola de 900 mm. sendo um dos primeiros caminhos de ferro de via estreita de importância no país,
O Porto de Leixões entrou ao serviço em Outubro de 1892. Após a construção dos dois grande molhes (Norte e Sul) a linha de transporte das pedreiras passou a ter um movimento cada vez mais reduzido, o que levou ao seu fim; no entanto, a população de Matosinhos mobilizou-se na exigência do aproveitamento da linha para serviço público de transporte de passageiros e mercadorias até à estação da Senhora da Hora que pertencia à Linha da Póvoa de Varzim.
Como a empreitada das obras em Leixões ainda não tinha sido concluída, a linha ainda pertencia ao empreiteiro Duparchy & Bartissol, pelo que foi com esta empresa que o contrato foi assinado, em 6 de Agosto do mesmo ano...
Como previsto no acordo, a circulação neste caminho de ferro, agora denominado de Ramal de Leixões, iniciou-se em 6 de Maio de 1893, apenas para serviços de passageiros, tendo o transporte de mercadorias sido autorizado por uma portaria de 2 de Junho do mesmo ano. Desta forma, o Ramal passou a fazer parte da rede da Companhia da Póvoa, que atingiu um total de cerca de 120 quilómetros.
Existia inicialmente apenas uma concordância a Norte da estação de Senhora da Hora, mas foi construída uma segunda concordância a Sul, m 1898-99, de forma a se poderem efectuar serviços directos entre a Estação Ferroviária de Porto-Boavista e Matosinhos. Esta foi a primeira ligação ferroviária ao Porto de Leixões, mas, devido às suas características, não permitia um uso pleno das capacidades desta área portuária, situação que só se pôde verificar após a abertura completa da Linha de Leixões , em 18 de Setembro de 1938.
Em 1902, a Companhia do Porto à Póvoa introduziu, neste ramal, a utilização de bilhetes de ida e volta.
Em 14 de Janeiro de 1927, a Companhia do Porto à Póvoa e Famalicão foi fundida com a Companhia do Caminho de Ferro de Guimarães, formando a Companhia dos Caminhos de Ferro do Norte de Portugal; assim, foi necessário elaborar um novo contrato com o Estado, que foi assinado em 8 de Agosto de 1927. Este documento garantiu a continuidade da exploração deste Ramal por parte da Companhia dos Caminhos de Ferro do Norte de Portugal, em acordo com o que tinha sido, anteriormente, estabelecido com a Junta Autónoma do Porto de Leixões.
Uma das condições essenciais para a criação da Companhia dos Caminhos de Ferro do Norte de Portugal foi a alteração de bitola da Linha do Porto à Póvoa e Famalicão, de 900 para 1000 milímetros, tendo esta modificação sido realizada, igualmente, no Ramal de Leixões.
No dia 30 de Junho de 1965 , o ramal foi encerrado com o argumento que, por causa do seu traçado urbano, causava muitos acidentes na sua passagem pelas principais ruas de Matosinhos.
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